sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Esquerdomacho, eu?

Ao conversar com um passarinho, fiquei sabendo que meu nome é citado em um banheiro utilizado por pessoas do IGCE. Na porta do banheiro sou citado como um "esquerdomacho".

Vivemos em uma sociedade machista, e eu, enquanto homem, sou passível de cometer atos machistas. Machismo esse que me privilegia e me coloca na posição de opressor, submetendo as mulheres à opressão.

Durante toda minha prática política, me posiciono contra as opressões, sejam quais forem, classe, raça, gênero, etc. Possuir esse histórico, não me isenta do papel de opressor, embora à todo momento eu busque lutar contra isso, desconstruindo-o. Não apenas em mim mesmo mas também com os que me cercam e convivem comigo.

Tendo em vista isso, que meu histórico de luta não me exime do papel opressor, não teria problemas algum em assumir um ato machista que eu possa ter cometido. Reconheceria-o e faria o possível para repará-lo ou diminuir os danos. Mas temos um problema entre cometer um ato machista e reconhece-lo. Eu ao menos sei de que sou acusado, fui exposto e não tenho nem direito à contra-argumentar! Se em algum momento eu tenha sido machista em comportamentos ou em falas com qualquer mulher, ou com qualquer homem que reconheça a opressão em minha fala, é um dever, de quem luta contra a desigualdade social, me questionar, me cobrar.

Partindo do pressuposto de que fora alguma feminista que tenha escrito isso, penso que seria muito mais coerente na luta contra o machismo buscar desconstrui-lo através do diálogo, quando possível. Pessoas conservadoras (de qualquer espectro político) não mudam apenas com diálogo, mas entre os que se colocam aptos à rever seus erros, creio que o diálogo seja sempre a primeira instância.  Não acho digno da luta feminista se limitar à citar nome de opressores em portas de banheiro, embora possa ser uma tática válida quando o diálogo é infértil. Expor os machistas em portas de banheiro pode ser eficaz na tentativa de proteger possíveis vítimas, mas acontece que nós, homens, por vezes somos machistas sem notar que estamos sendo. Nos reconhecermos machistas é um primeiro passo para a superação.

Esquerdomacho, eu? Talvez, mas sem saber onde errei fica difícil superar...

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A ditadura da democracia.

 
      Vivemos tempos difíceis. Vivemos um tempo onde pedimos uma coisa sem fazer idéia do que isso significa. Quando estamos com sede, pedimos água. Quando estamos com fome, pedimos comida. Mas porque diabos pedimos democracia? O que queremos com isso? Falamos de democracia como um aluno que não entende matemática fala sobre o X. Ele está em todo lugar, em qualquer equação. Pode jogar o X para esquerda, para direita, utilizando-o sem ter idéia do que ele significa. Mas mesmo sem nunca decifrá-lo, ele o acompanhará até o fim da vida escolar e você falará dele. Assim é a democracia, o X da questão. Democracia é uma palavra fácil e que cabe na boca de qualquer um.

      Mas afinal, o que é democracia? Democracia é apertar “verde-confirma” e ficar feliz por participar do processo político do país? É a isso que deve se resumir nossa vida política? A poder fazer uma fala na tribuna livre na câmara dos vereadores enquanto eles reforçam seus acordos? É ter a possibilidade de disputar eleições e mudar tudo por dentro (o entrismo)? É ter acesso às políticas compensatórias/assistencialistas enquanto tais políticas beneficiam os mega-empresários da educação e da construção civil? É ter acesso à um conjunto de instrumentos que organizam a participação civil que, quando muito, conquistam migalhas? É poder fazer manifestações pró e contra o governo, afinal democracia é a liberdade de expressão? É ter a possibilidade de ir e vir quando bem entender, sem se dar conta que você não tem dinheiro para ir e vir quando bem entender? É a democracia sindical onde os trabalhadores são praticamente obrigados a votarem nos interesses do patrão, pois estão sendo coagidos e ameaçados de demissão? Democracia é a possibilidade de assistir o canal de televisão e ler o jornal que bem entender, sem se dar conta que tudo isso está nas mãos de meia dúzia de grupos ou famílias que moldam nossa consciência à todo momento? Não é curioso termos na democracia espaços para pessoas taxadas de antidemocráticas propagandearem suas idéias, chegando ao cúmulo de serem defendidas em nome da democracia?

      Vivemos em uma sociedade de classes, onde uma classe (os burgueses) explora outra (os trabalhadores). Essa é a característica fundamental do sistema capitalista, a exploração. Independente da forma de governo, a dominação burguesa permanecerá, seja na forma de ditadura, seja na democracia. É aos interesses da camada dominante da população que toda máquina pública (o Estado) servirá. Enquanto a população pede por mais investimentos em educação e saúde, mais de 40% do orçamento federal é utilizado pra pagar dívidas internas e externas. Sendo assim, nosso modelo de governo pós ditadura militar-burguesa (pois foi financiada pela burguesia), é o de uma democracia-burguesa. Segundo Lênin, a democracia é forma mais desenvolvida do capitalismo. Se na ditadura os interesses da burguesia são conquistados através da repressão, na democracia a repressão ocorre em última instância. Em primeira (e mais legitimadora e convincente) instância está a coerção. E é essa democracia-burguesa que enorme parcela da população defende, pequenas liberdades em detrimento do bom andamento dos lucros dos patrões. Sejam essas pessoas as das manifestações do dia 16 (contra a Dilma) ou do dia 20 (pró Dilma).

      Dezenas de golpes pelo mundo todo já foram promovidos em nome da democracia. A exploração da classe trabalhadora continua sendo resguardada por ela. "Ahhh, mas qualquer um pode ser candidato e mudar o país, não é? Até um torneiro mecânico conseguiu, olha como a democracia é bacana!!". Os limites da democracia nada mais são do que os limites do capital. Um operário como presidente não constrói o socialismo, bem como uma mulher na presidência não constrói o feminismo e nem um presidente negro nos EUA desconstrói o racismo.

      Quando eu era mais novo e minha irmã pentelhava para jogar vídeo-game comigo, havia uma técnica extremamente desenvolvida para resolver o conflito. Dava o controle na mão da infeliz, mas sem ela ver, o desconectava do vídeo-game. Assim, ela pararia de pentelhar, ficaria contente por achar que participava do jogo, e não interferiria em absolutamente nada. Essa é a democracia-burguesa. Pode até ceder um controle, mas nunca vai deixar que interfira realmente no andamento do jogo.

      Lá no cerne, no meio da nuvem da democracia, existe um pilar bem sólido, até então intocável. A ditadura do capital.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Um certo aluno que dava muito trabalho.

      Havia um certo aluno, em uma certa escola que dava um certo trabalho. Batia nos colegas, respondia aos professores e não fazia nenhuma atividade proposta. Era agressivo e desobediente. Frequentava a escola pela manhã e a tarde ficava em casa, cuidando do irmão mais novo, enquanto a mãe trabalhava. Uma criança de 9 anos cuidando de uma criança de 3 anos. Sua mãe não tinha condições financeiras de pagar alguém para cuidar dos filhos. Não tinha notícias do pai alcoólatra, que fugiu de casa após bater na mãe.
      Seus professores diziam que era uma criança problemática por causa da falta de responsabilidade da mãe, que não dava atenção aos filhos. A mãe não comparecia as reuniões e nem às apresentações dos filhos. Saia de manhãzinha para levar os filhos à escola e ia direto ao trabalho. Tinha dois empregos durante a semana, e no final de semana fazia bicos como segurança. Caso fosse mandada embora de algum desses trabalhos, não teria condições de pagar as contas de casa, o aluguel e o supermercado para a família. Precisava de três empregos para poder permitir que seus filhos existissem.
      Enquanto a mãe trabalhava para sustentar os filhos, os professores diziam que ela fazia pouco caso deles. Enquanto os professores passavam perrengue com seu filho indisciplinado, alguém dizia que os professores eram incapacitados. Enquanto alguém dizia que os professores eram incapacitados, em algum lugar do Brasil um PM dava borrachadas em professores que lutavam por melhores condições de trabalho. Enquanto os PMs davam borrachadas, os bancos lucravam como nunca. E tudo continua na mais perfeita ordem e progresso...
      Quem quiser achar que essa história é invenção da cabeça de um desocupado que acredite.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Rio Claro, Pastor João e a Igreja invisível!

     Hoje, na câmara dos vereadores em Rio Claro, entre diversos pontos a serem votados, tiveram dois projetos de lei no mínimo curiosos (pra não dizer outra coisa) e que mostram bem à quem serve essa casa.
   
     O primeiro diz respeito a uma implementação de um programa sobre empreendedorismo nas escolas municipais, fomentando a formação do “capital humano” com o intuito de “contribuir para a disseminação da cultura empreendedora” e “despertar e fortalecer o espírito empreendedor dos estudantes”. Este projeto, de autoria do vereador João Luiz Zaine, é um infeliz projeto que reforça a visão mercadológica que a escola possui, passando não somente a reproduzir a desigualdade social que é intrínseca e implícita a ela, mas explicitando o seu caráter mercantil. O empreendedorismo, segundo citação que contempla o vereador, “é o motor que gera inovação, emprego e crescimento econômico”. Só esqueceu-se, ou não quis, dizer que junto ao emprego, traz mais exploração; junto à inovação, traz a exclusão; e que o crescimento econômico é o crescimento econômico para os patrões, não para os trabalhadores, que são quem de fato produzem as mercadorias! Mas essa projeto de lei permanece em “stand by”, pois algum vereador pediu vistas por 90 dias.

     Já o segundo projeto de lei, de autoria de José Pereira dos Santos e Anderson “fiscal de cu” Christofoletti, legislava sobre a imunidade tributária do IPTU sobre os imóveis dos Templos de qualquer culto, das organizações religiosas, e da Santa Sé. O projeto foi aprovado por unanimidade entre os 11 vereadores presentes na seção. Nenhum questionamento levantado, nenhuma fala, nenhuma ponderação. Todos aceitaram bovinamente. Mas como perguntar não ofende (pelo menos não deveria), porque todos os vereadores aceitaram sem questionamentos o projeto de lei? Porque todo trabalhador que possui moradia deve pagar IPTU e as igrejas não? Qual o benefício social que essas instituições produzem? Se a arrecadação da prefeitura está caindo drasticamente, porque dar esse benefício a essas instituições duvidosas que não prestam contas a ninguém? Porque todas as comissões (Comissão de Constituição e Justiça, Comissão de Acompanhamento da Execução Orçamentária e Finanças, Comissão de Políticas Públicas) deram parecer favorável à lei?

     Já que no Plano Municipal de Educação, depois das igrejas tanto baterem o pé, consta que deverá estar presente ano que vem o ensino religioso nas escolas, que matemos vários coelhos com apenas uma cajadada! Que sejam os representantes do fundamentalismo religioso cristão dessa cidade os responsáveis pelas aulas do ensino religioso, e que também sejam responsáveis pelo projeto de empreendedorismo nas escolas. Só estes, principalmente as igrejas evangélicas, conseguem multiplicar dinheiro de uma maneira inexplicável! Sabemos muito bem disso, eles multiplicam como ninguém. E podem até fazer isso na mesma aula! É o famoso slogan vindo à tona, “pequenas igrejas, grandes negócios”.

    E assim vemos a quais interesses essa casa que se diz do povo serve.  Nunca o termo “sessão ordinária” foi tão oportuno...



"Para os pobres e desesperados
E todas as almas sem lar
Vendo barato a minha nova água benta
Três prestações, qualquer um pode pagar

O sucesso da minha existência
Está ligado ao exercício da fé
Pois se ela remove montanhas
Também traz grana e um monte de mulher."
Raul Seixas - Pastor João e a igreja invisível