quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Oprimidos e opressores.

   Homens, brancos, heterossexuais de classe média e alta. Tenho uma coisa importante para dizer a vocês: vocês não são protagonistas das mudanças sociais. É isso mesmo, vocês não são. Podem até colaborar, e a meu ver, é o que devem fazer, colaborar, mas não protagonizarão. Talvez possamos (pois eu sou um dos que pertencem às classes já citadas) ser agentes contribuintes, esclarecermos aos nossos iguais nossos privilégios, a distância que nos separa dos desprivilegiados, mulheres, negros e indígenas, homossexuais e pobres. Nosso papel está em uma possível conscientização de que nossa vida possui mais facilidades que a vida dos demais. Eu nunca fiquei com medo de ser abusado sexualmente na rua a noite. Eu nunca levei uma lampadada na cabeça andando na Av. Paulista. Eu nunca entrei em uma loja e o segurança ficou de olho em mim por causa da cor da minha pele. Eu nunca tive que ir à casa de uma família cuidar dos filhos de outro enquanto deixava meus filhos sozinhos em casa. Fui enfrentar minha primeira consulta médica na saúde pública com 17 anos. Sou um privilegiado e por isso o papel que me resta perante os meus iguais, é de buscar conscientizá-los de que “privilégio come direito” (Eduardo Marinho). Salvo exceções, os que abdicam de sua origem social e acabam somando à luta, de diversas maneiras, as lutas populares, mas esses são minorias.

   Por outro lado, mulheres, negros, homossexuais e pobres. Sem vocês não haverá mudança social alguma! Alguns privilegiados conscientes, podem talvez preparar um terreno para tornar menos árdua a luta por uma sociedade igualitária, mas apenas vocês podem reverter a situação. Nenhum homem sabe melhor do que qualquer mulher quanto dói o machismo, nenhum branco sabe tão bem quanto um preto o quanto fere o racismo, nenhum heterossexual sabe tão bem quanto um homossexual como é ser discriminado. Sem a organização dos que sentem na pele a opressão, sem a consciência de que ser violentado não é natural, nada mudará. É imprescindível que se organizem, que estudem como se reproduz a opressão e que possibilitem meios de derrubá-la. Seus direitos, que são legítimos, devem se concretizar tomados de assalto! Apenas lutando se fazem valer direitos, diretos esse que não é nenhum papel que os define, e sim a consciência de que ninguém é melhor do que ninguém. Só os oprimidos podem se libertar da opressão, assim como só os oprimidos podem libertar os opressores de sua posição. O papel dos oprimidos na luta é primordial.