domingo, 29 de dezembro de 2013

Meu mundinho perfeito...

Como seria o seu mundinho perfeito? O meu eu não sei muito bem, mas sei de alguns tipos que não estariam nele...

No meu mundo perfeito não existiria latinfúndio. Ninguém nunca teria sido latinfundiário. Ninguém teria precisado escravizar índios e negros para derrubar florestas. Ninguém em pleno século XXI continuaria matando índios para expandir sua monocultura, mantidas através do trabalho escravo, falsificando documentos e grilando papéis.

Não existiriam banqueiros. Não que eu não ache apropriado guardar dinheiro em algum lugar, mas não quero que nenhum filho da puta se aproveite da miséria de um povo que tem que ficar pegando dinheiro emprestado pra pagar dívidas e depois seja roubado ao pagar essa mesma dívida. Lucrar com a falta de dinheiro dos outros não me parece tão bonito quanto suas propagandas “generosas”.

E por falar em se aproveitar de miséria, não existiriam empresas terceirizadas! Esse bando de exploradores de seres humanos que pagam uma miséria por trabalhos extremamente desgastantes! Utilizam-se da baixa escolaridade da população para dar migalhas e os vêem apenas como uma mão de obra que tem que ser utilizada até o fim de suas energias. Se não trabalhar direito e for um trabalhador dócil os mandam embora, existem milhões que desejam um salário pífio como o seu. São os escravizadores contemporâneos!

Não existiriam publicitários. Nenhum playboy metido a besta iria me dizer o que me faz feliz ou não. O que eu amo ou deixo de amar. Onde é lugar de gente feliz. Eu saberia devido as minhas próprias experiências o que me traz prazer e felicidade. Talvez eu até admirasse a tristeza e a melancolia! Porque não? Esse tipo de gente fica criando necessidade onde não tem, apenas pra dar lucro pra burguês. Pra eles ser preto é feio, ser branquelo é feio, ser alto é feio, ser baixo é feio, ser brasileiro é feio, ser croata é feio, tudo é feio, a não ser que você consuma, consuma e será bonito! COMPRE, COMPRE, COMPRE!

Não existiriam policiais! Ninguém precisaria dar tiro em ninguém, porque as pessoas saberiam respeitar umas as outras! Todas teriam condições básicas de existência. Não seriam expulsas de suas casas que conquistaram com tanto esforço depois de acabar com os latifúndios do começo do texto! Não teria mais armação de flagrante pra prender o moleque que voltava de madrugada da balada por simples sadismo. Não teria mais bala de borracha nos professores, porque os professores já possuiriam condições adequadas de trabalho e poderiam plenamente construir uma nova consciência com seus alunos, não mais a consciência individualista e mercadológica, mas uma consciência coletiva! Esses professores educariam tão bem que ninguém mais quisera ser policial...

Nem policial, nem publicitário, nem banqueiro e nem latinfundiário. Todas resolveriam abrir mãos de seus privilégios para terem o privilégio da igualdade.

Obs: também não teria brócolis!

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Presente de Natal

O que eu quero de Natal?

Queria um natal sem consumismos
que uma palavra valesse mais que um boneco
que uma gargalhada valesse mais do que uma peça de roupa
e que as pessoas valessem mais do que as coisas.

Não queria um Natal vermelho, como a mão suja de vestígios da polícia, um vermelho de sofrimento, o vermelho da repressão, sem saber por quem e porque reprime
tirando o direito de viver com decência dos que fazem os enfeites desse mesmo Natal.

Queria um Natal que chegasse na periferia, nos ateus, nas prostitutas, travestis e candomblés, um Natal sem falácias, sem discriminações, um Natal sem mais-valia
apenas que as pessoas valham mais.

Que não seja um Natal vermelho de Coca-Cola, que ele seja vermelho de mudança
vermelho da cor do sangue dos que tecem e não poder vestir, constroem e não podem morar,
produzem e não podem usar.

Queria apenas isso de Natal.

domingo, 27 de outubro de 2013

Calor

   Tem gente que anda difamando o calor por ai, dizendo que ele é insuportável, mimiimimimi. Essa gente parece estar acostumada com o frio das Zoropa, lá da torre Eiffel, torre de Pizza, da torre do relógio. Mas como lá é longe, é melhor ir pra Campos do Jordão, pagar 15 reais por um leite com nescau e assistir aos desfiles de roupas das dondocas.

   Eu confesso, gosto do calor. Gosto mesmo do calor! Não gela a privada, nem os pés. Não precisa esquentar o leite, e talvez até coloque duas pedras de gelo nele! Posso tomar banho de chuva sem me resfriar. Posso jogar bola sem tomar uma bolada nas costas que vai arder como uma facada! Da pra fazer bobagenzinha sem se preocupar em ficar de baixo das cobertas e depois rola ficar abraçadinho suando junto. Tem o horário de verão, e só nele o sol dura até 7 da noite! Aonde já se viu o sol durar até a noite? É a noite que não quer invadir o dia, até ela sabe que o sol é foda!
Você acorda, abre a janela e vê o céuzão azul. A vontade de cantar até compete com o sono, e as vezes até ganha! No sol tem churrasco, cerveja, piscina e Molejãao! Quem se diverte assim no frio? Dá até pra almoçar sorvete!

   Posso estar sendo chato, talvez até seja mesmo. Mas sou um chato feliz, um chato sem camisa e feliz!

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Democracia plena

Democracia é paz
Não essa democracia burguesa
A democracia plena é paz
Os que dizem que vivemos em uma democracia
Se não são ingênuos, são falaciosos!
Eu quero a paz de uma democracia plena
Não quero a paz de uma democracia burguesa
Não quero a paz de lutar por meus direitos, embora seja necessário
Quero meus direitos garantidos
Não quero a paz do burguês do Madalena
Não quero a paz do cano do PM na minha testa
Nem a paz de um túmulo
Não quero a paz da TV ligada, dizendo “o que faz você feliz”
Não quero a paz da minha casa, com medo de pisar na rua
Não quero a paz do meu prédio, sem saber o nome do vizinho
Não quero a paz dos seguranças me vigiando
Não quero a paz de um emprego que me inferiorize
Não quero a paz de ser explorado
Nem a liberdade de escolher em qual banco me endividar
Eu quero apenas querer o mesmo para mim e para você
Seja de onde você for ou como estiver
Por uma democracia plena

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Um nordestino, uma sapata e o golpe comunista

"Quando João fala de Pedro, eu conheço mais de João do que de Pedro."

Não faço idéia de onde tirei essa frase, mas acho que ela cabe muito as pessoas que criticam o PT, Lula, Dilma, entre outras.

Penso que cabem inúmeras críticas a esses, inúuuuumeras, mas quando vejo as críticas partindo dos Jabourzinhos da vida, vejo críticas baseadas no inconformismo de um ex-metalúrgico ter assumido a presidência, um cara sem estudo e pobre estar em um cargo com tal importância. E ainda pior, esse nordestino pobre surgiu da esquerda! Comunista, sapo barbudo!
Dilma, essa vaca... a nossa classe média não se conforma com uma militante contra a ditadura civil-militar ter chegado à presidência, e ainda por cima uma mulher, que deveria estar servindo seu maridinho! Ou o que incomoda é o fato dela talvez servir a mulherzinha dela? Credo, uma sapata na presidência!
PT?? Aaaa, os petralhas, mensaleiros, golpe comunista! Esse ódio incondicional ao PT deveria ser melhor estudado pela psicanálise. Críticas baseadas na intolerância contra as bases do partido, que são sindicatos de trabalhadores, diversos movimentos sociais, pessoas das periferias. Uma intolerância que me parece mais ligada à classe socioeconômica do que ao posicionamento político.

Os três citados acimas possuem diversos feitos dignos de uma cornetada monstra. Parcerias com bancada religiosa, ruralista, grandes empresários, abandono de suas bases e dos ideais que sempre os caracterizaram e sua política conciliadora. O PT é o primeiro partido no Brasil que conseguiu agradar gregos e troianos. Mesmo sendo ideologicamente impossível, por serem interesses antagônicos...

Antes de criticar, pense no porque você está criticando algo ou alguém. As vezes diz mais sobre você e seus preconceitos do que sobre quem você está se referindo... seu idiota (no sentido etimológico da palavra)!

E pra quem leu isso e pensa que eu estou defendendo o PT, leia de novo até entender!

terça-feira, 9 de julho de 2013

Polícia pra que?

   Desigualdade social está diretamente ligada à violência. Quanto maior a desigualdade, maior a violência. Quanto menores forem as condições de acesso à direitos mínimos dos seres humanos (alimentação, transporte, saúde, educação, entre outros) maior é o índice de violência na região. Logo, quanto melhor a qualidade de vida dos indivíduos, menos suscetíveis estarão à criminalidade. Não é uma regra, é uma constatação. Até onde eu saiba o PCC não tem corpo forte em bairros elitizados e sim nas periferias. Periferias que são esquecidas pelas políticas públicas. E sabendo disso, não há nada mais contraditório em relação à segurança pública do que investir na força policial para prevenir a violência.

   A desigualdade social beneficia uma minoria em detrimento de uma maioria. Se existe alguns com tanto, é porque existem outros com muito pouco. Os de baixo fundamentam sua existência nos endinheirados. Por trás de todo rico existem inúmeros explorados. Seja a faxineira que limpa a casa, o motorista que o transporta, o assistente de pedreiro que construiu sua mansão, os bolivianos que costuram suas roupas, os tailandeses que produzem seu tênis, etc. Uma elitezinha possui imensos privilégios, sustentados pela falta de direitos básicos da maioria.

Garantir a desigualdade social é o papel do Estado. Não o Estado de São Paulo, o Estado de Minas Gerais. Esses Estados delimitados por uma linha imaginária são apenas parte do Estado. O Estado como um órgão subjetivo também engloba as escolas, os partidos, a burocracia, a família, a igreja, etc. E é função desse Estado garantir as diferenças entre as classes. O Estado existe para garantir o poder político, econômico e social das elites. Não é coincidência que as escolas, hospitais e locais de lazer públicos são predominantemente precarizados e os locais privados possuem condições adequadas. Alguns merecem, outros não. Merece quem tem dinheiro.

   A polícia é legitimada na nossa sociedade pelo seu combate a violência, combate ao crime. Mas é contraditório a polícia combater a violência, quando essa violência é promovida pelo Estado. O mesmo que cria, combate? Seria como seu pulmão combater seus rins. Ambos são parte de um mesmo organismo, não faz sentido. A polícia é de fato legitimada pela desinformação.

   A polícia que é legitimada pelo povo quando “combate” a criminalidade, é a mesma polícia que reprime qualquer manifestação que tenha combatividade contra a lógica perversa de nossa sociedade. Qualquer pessoa que tenha um mínimo de noção do que são os movimentos sociais sabe como a polícia age em relação à eles. Os movimentos sociais que são veementemente reprimidos são aqueles que se opõem as ideologias do Estado, que lutam por justiça social e vão de encontro com os privilégios de uma elite.

   Policiais se esquecem que são trabalhadores precarizados, recebendo uma miséria para arriscar sua vida, pela manutenção desse sistema que os explora. São cães de guarda do Estado. Cachorrinhos que existem em função da burguesia. Cachorrinhos que fazem carinho no dono para comer migalhas. Comer migalhas juntos aos que eles mordem.


http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/07/1308522-pm-vai-comprar-caminhoes-com-canhoes-de-agua-para-dispersar-multidoes.shtml


segunda-feira, 1 de julho de 2013

Porque sou contra utilizarem a bandeira do Brasil nas manifestações?


Porque sou contra utilizarem a bandeira do Brasil nas manifestações?

   Porque eu não sou só brasileiro! Quando no Chile estudantes se voltam contra as políticas educacionais do governo, eu também sou chileno! Quando na Grécia manifestantes se voltam contra as medidas de austeridade, eu também quebro pratos, sou grego! Quando argentinos pixam suas inquietações políticas nas ruas, se expressando e indo de encontro com a moral conservadora, eu sou argentino! Quando venezuelanos saem as ruas contra um golpe armado pelos Estados Unidos, eu sou da Venezuela! Quando um palestino se manifesta contra a violência israelense, eu sou palestino!

   Nao é uma linha imaginária, que aprendemos nas escolas que vai dizer quem eu sou e por quem devo lutar. A luta é uma só. Esqueçamos os mapas! Esse nacionalismo/patriotismo/ufanismo é muito perigoso. Diversos desrespeitos aos direitos humanos foram feitos em nome da supremacia de algum coletivo. Diversas ditaduras se apoiam nessa paixão cega e promovem sucessivas chacinas!

   A mesma bandeira verde, amarela, azul e branca que dizem que representa a todos nós dizimou os índios, escravizou e continua a massacrar os negros! Não se deixe levar por uma seleção de futebol ou pelas cores que o Galvão Bueno e o Pelé dizem que voce tem que defender! Eu não defendo países, eu defendo os seres humanos. Ser brasileiro não me faz melhor do que um vietnamita, e sendo assim, desfilar com sua bandeira ou é vazio ou quer representar superioridade.
Eu não tenho que amar ou deixar lugar nenhum!

E por falar em lugar nenhum...

"não sou brasileiro
não sou estrangeiro
não sou de nenhum lugar
sou de lugar nenhum
não sou de São Paulo, não sou japonês
não sou carioca, não sou português
não sou de Brasília, não sou do Brasil
nenhuma pátria me pariu!"

terça-feira, 18 de junho de 2013

Que país é esse?

   Na maioria das vezes em que ouvimos a música "Que país é esse?", Legião Urbana, é quase uma regra a resposta "é a porra do Brasil" em alto e raivoso som. Mas, sejamos francos, que país é esse?

   Pois bem, a "porra do Brasil" é o país que clama pela paz e elegemos Jair Bolsonaro, Conte Lopes, Coronéis Ubiratã e Telhada. Somos a "porra do Brasil" que coloca nome as ruas de torturadores, como Sergio Paranhos Fleury e outras centenas que eram cúmplices de tais atos. Somos a "porra do Brasil" que branda por democracia mas da voz à pessoas com posicionamentos totalmente antidemocráticos como as bancadas ruralistas e evangélicas do nosso congresso. Somos a "porra do Brasil" que deixa pessoas como Datena, Jabour, Sheherazade e Pondé formarem nossas opiniões como se fossemos ovelhas guiadas por seus pastores. Somos a "porra do Brasil" que acha que o Tiririca é um palhaço, mas que agradecemos todos os dias pela nossa vidinha medíocre quando assistimos Faustão, Eliana, André Marques, Gugu, Luciano Huck, entre outras merdas. Somos a "porra do Brasil" que não percebemos que tudo isso acontece para beneficiar alguns Dinizes, alguns Oderbrecht's, Batistas, Nahas, entre outras sangue-sugas.

   A "porra do Brasil" é o Brasil que fazemos por merecer. Por mais que fiquemos indignadinhos, nós fazemos por merecer. Somos contraditórios em nossas inquietações e nossas ações.

   Então, "que país é esse"? É a "porra do Brasil" que eu e você estamos construindo. Se quisermos mudar que lutemos ao invés de ficar cantando belas músicas, mas sem atitude alguma. Gabriel Pensador e O Rappa também mandam abraços.

sábado, 11 de maio de 2013

Davi contra Golias


   Era uma vez um estudante. Um estudante de Educação Física. Durante seu estágio em uma escola pública estadual, comendo seu saboroso mingau de chocolate, foi abordado por um garoto. Davi perguntou ao estudante onde era o bairro em que o estudante cursava sua faculdade. O estudante respondeu que ficava no bairro Bela vista. Davi disse que conhecia o bairro, pois já tinha trabalhado panfletando nessa região. Davi, 13 anos, disse que trabalhava entregando panfletos. O estudante perguntou a Davi se ele conseguia juntar um dinheiro com este trabalho. Davi respondeu que ganhava mais ou menos 300 reais por mês. O estudante indagou o garoto perguntando se ele conseguia guardar um dinheirinho para ele. Davi respondeu que as vezes conseguia guardar um pouco, mas que estava ajudando o pai a pagar o caixão da irmãzinha, que recentemente tinha nascido morta.
   Seria totalmente compreensível aos meus olhos se esse garoto procurasse meios não convencionais para conseguir o dinheiro do caixão da irmãzinha. Não convencionais e ilegais. Com certeza toda uma classe com valores superficiais e egocêntricos difamariam o garoto menor de idade aos quatro cantos. É difícil ver que esse indivíduo de 13 anos, teve que trabalhar para pagar um objeto, que seu pai não consegue pagar. É difícil ver as condições de trabalho e a remuneração que esse pai recebe, que obriga o filho a trabalhar para pagar o caixão da irmã. É difícil saber que como Davi, existem vários casos como esse na rede pública de educação. É difícil de ver, que os mesmos que penam na rede pública de educação, penam na rede pública de saúde.
   Depois de voltar da escola particular e do empreguinho bem sucedido; depois de voltar das aulas particulares de natação, balé, tênis e da consulta ao psicólogo; depois da seção de acupuntura e do personal treiner; depois de enxer o bucho as custas de uma empregada (essa classe que agora ousou ter direitos, humpf!); depois de tudo isso, é fácil dizer que bandido bom é bandido morto e "viva a redução da maioridade penal".
Bando de pau no cu!

terça-feira, 7 de maio de 2013

Bandido bom é bandido morto!

   O que é ser bandido? O que o caracteriza enquanto tal?

. Porque é bandido o indivíduo que assalta bancos mas não são bandidos os donos dos bancos que lucram milhões (talvez bilhões, até trilhões)? 
. Porque é bandido quem assassina outra pessoa, mas não é bandido quem lucra outros milhões (talvez bilhões, até trilhões) produzindo armas?
. Porque não são bandidos os mafiosos donos de planos de saúde que também lucram outros tantos milhões (talvez bilhões, até trilhões)?
. Porque não são bandidos os marqueteiros e publicitários que invadem e distorcem suas vontades, seu cotidiano, à fim de que todos consumam mais e que lhe inculcam que o consumo é a chave da felicidade?
. Porque não chamar de bandidos policiais que expulsam pessoas de suas casas para que o Estado transforme a área em um estacionamento particular?
. Porque não chamar de bandidos donos de empreiteiras que financiam campanhas políticas pensando em lucrar milhões (talvez bilhões, até trilhões) com a construção de "florestas de concreto e aço"?
   
   O que é ser bandido? Esses citados acima não são bandidos nem criminosos porque as leis determinam que tudo isso é legal. É a lei. Mas não é por serem leis que são justas. E quem é conivente com isso, quem aceita e concorda com isso pra mim é bandido! E bandido bom é bandido morto...

   Que tal? Como é ser vítima da própria opinião?




terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

"Pode ser gorda, pode ser feia, só não pode ser gorda e feia!"

    Era uma vez um planeta, muito, muito, muito distante! Muito parecido com o nosso. Muito mesmo! Com uma pequena diferença que no final faz muita diferença.
    Neste planeta os dicionários não possuem a palavra estética. Seja no Aurélio, Michaelis ou até no Wikipédia, não existe nenhuma referência à esta palavra. Ninguém sabe o que é isso. E por não saber o que é isso as pessoas respeitam a liberdade das outras pessoas de decidirem sobre seus próprios corpos. Como não existe um padrão de beleza, todos são bonitos aos olhos. Mulheres gordas são bonitas. Homens magrelos são bonitos. Mulheres com pouco peito são bonitas. Homens peludos são bonitos. Anões são bonitos. Mulheres com buço são bonitas. Cabelo pixaim é bonito. Idosos são bonitos. Bolivianos são bonitos. Pessoas sem as orelhas e com um olho são bonitas. Todos são bonitos porque as pessoas não se apegam as aparências. O que é feio indiscutivelmente são as pessoas que julgam as outras por seus aspectos físicos. As pessoas se julgam belas ou feias depois de conhecer uns aos outros. Depois de trocar idéias e experiências. Depois de expor opiniões. Contarem piadas. Revelarem histórias.  Ai sim, depois de se comunicarem, as pessoas chegam a alguma conclusão sobre a beleza ou ausência dela no próximo. Nunca imaginaram que em algum lugar do mundo as pessoas podiam olhar para outras e se apaixonarem apenas pelo olhar. Repugnam as pessoas que olham uma revista e dizem que tal pessoa é bonita ou feia apenas pela sua carcaça. Isso não faz sentido para eles, pois não se pode conhecer assim a excência do outro. Não entendiam como poderia um sujeito achar o outro bonito apenas por vê-lo rebolando na televisão. Parecia extremamente superficial para eles e por isso não supervalorizam as aparências. Para essas pessoas isso não faz sentido algum.
    De tanta curiosidade, o Planeta Desprovido de Estética (nome oficial) recrutou alguns habitantes. Esses recrutas foram enviados ao Planeta Provido de Estética (nome oficial) para realizarem estudos. Fizeram algumas constatações iniciais e ficaram extremamente desiludidos e impressionados com a capacidade de inteligência e persuasão humana, digo, dos habitantes do Planeta Provido de Estética.
    Os recrutas descobriram que existindo um padrão de beleza, as pessoas faziam de tudo para atingir esse padrão. Viram que tinha pessoas que se depilavam, pintavam o cabelo, faziam academia, tomavam injeções, faziam drenagem linfática, deixavam de comer, colocavam silicone, entre outras inúmeras bizarrices, apenas para se aproximar ao padrão de beleza que era imposto. Viram que esse padrão de beleza era colocado na mente das pessoas, como uma lavagem cerebral, por meio de revistas, programas de televisão, por conversas com os amigos, por brinquedos de crianças, por autidores, e que as pessoas aderiam à esses valores facilmente. Mesmo quem não concordasse.
    Mas enquanto as pessoas interferissem somente em suas vidas, não haveria problema. O problema é que esse padrão de beleza, fazia os habitantes do Planeta Provido de Estética, interferirem negativamente na vida dos seus semelhantes que não se enquadravam nos seus padrões. E foi isso o que mais chamou a atenção dos habitantes do Planeta dos Desprovidos de Estética, foi ver que as pessoas que fugiam deste padrão eram oprimidas. Os gordos eram constantemente alvos de piadas, assim como os negros. Ao observar alguém acima do peso andando na rua, coincidentemente ou não, pessoas ao redor davam risadas. O estudo mostrou que nos meios de comunicação haviam propagandas que salientavam isso, criavam dentro das pessoas a imagem do que era ser uma pessoa bonita. Por exemplo a propaganda de uma marca de lâminas de barbear que colocava pessoas peludas como menos desenvolvidas, induzindo assim, as pessoas a comprarem o tal produto. Quem não comprar é um “homens das cavernas”, os peludos. Quem comprar é uma pessoas desenvolvida, os depilados. Notaram que os depilados passam a fazer chacota dos que não depilam. Bem como fazem aos gordos. Aos magrelos. Eles não fizeram anotação alguma de piadas sobre pessoas com pernas torneadas, cinturas finas, peitos grandes (mulheres) ou definidos (homens). Mas faziam piadas com quem não se encaixasse nessa dualidade de homens e mulheres, chamando-os de viados, baitolas, sapatão. Para não ser vítima de chacota tinha que estar próximo do padrão de beleza e é necessário que se faça o consumo do jeito que os meios de comunicação induzem os habitantes a consumirem, caso o contrário você corre o risco de ser isolado de todos e viver sozinho pelos cantos. Sendo seus amigos a "polícia da indústria da beleza", se você os está perdendo é porque não está se enquadrando devidamente.
    Estas foram apenas as anotações iniciais da pesquisa. Ela não foi concluída. A última vez que foram vistos os recrutas, estavam assistindo ao programa Pânico na TV. Desde então nunca mais foram vistos.


http://www.hypeness.com.br/2013/02/voce-tambem-olharia-serie-fotografica-registra-o-preconceito-no-olhar-das-pessoas/

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Justiça pra quem?

   Quando assistimos às declarações de famílias que foram vítimas de violência urbana, é comum que essas declarações sejam banhadas de sentimentos de justiça. Nada mais compreensível. Nos sentiríamos reconfortados de saber que a pessoa que nos causou pânico, nos trouxe tristeza, desespero e fez algum mal para alguém querido, sofresse ao ser preso, tomasse uma surra. O criminoso sentiria na própria pele um pouco do que fez. Justiça. Ou vingança.
   É muito fácil e superficial quando observamos os atos criminosos e fazemos o julgamento pensando em quem foi prejudicado. Vou exemplificar. Um assalto. Um marginal anuncia um assalto, o estudante resiste, reage e leva um tiro. O marginal sai correndo. Quando noticiarem o ocorrido, o noticiado será a tentativa de assalto, a reação e o tiro. Quando forem detalhar quem eram os sujeitos do acontecido detalharão apenas quem era o estudante que levou um tiro. Dirão que era um estudante aplicado, uma pessoa contente, que tratava bem a todos, tinha uma dieta balanceada, o que fazia em seu tempo livre, etc. Um sentimento de solidariedade tomaria conta de mim, pois  o estereótipo dele é muito parecido com o das pessoas que fazem parte do meu cotidiano. O estereótipo dele é muito mais parecido com o meu do que o estereótipo do marginal, embora ninguém tenha se preocupado em mostrar a rotina deste.
   Mas por que não mostrar a rotina do marginal? Vamos criar outra situação fictícia, agora do marginal. Este adolescente possui uma mãe. A mãe que sustentava a casa não consegue trabalhar pois está doente. O filho/marginal a tempos tentava conseguir atendimento e remédios para a mãe no serviço público de saúde. Depois de meses de tentativas o filho se cansa. O adolescente tem o conhecimento de que existe uma maneira mais rápida e fácil de se conseguir dinheiro para poder comprar os remédios. No lugar onde ele mora vários amigos de infância trabalham a tempos com esse tipo de atividade fácil e rápida de se conseguir as coisas. Ele se cansou de esperar e fará o óbvio. Ele irá tentar de novo marcar consulta no SUS? Não, esse não é o óbvio.
   Nos episódios em que o Marcelo Rezende e o Datena são ótimos narradores, é muito comum nos solidarizarmos com as vítimas. Elas se parecem muito mais conosco do que com os criminosos. Nós sabemos a rotina das vítimas e nos identificamos com elas. Não nos identificamos com os marginalizados pois não passamos pelas dificuldades que eles passam. É muito mais fácil achar que o problema está no outro e não no todo. É mais fácil dizer que "essa gente" é ruim por natureza. É mais cômodo pedir que reduzam a maioridade penal quando sabemos que os nossos não sofrerão com isso. É mais cômodo pedir mais polícia, mais prisões quando não sofreremos nem um pouco com estas. Por uma educação de qualidade para todos ninguém se preocupa em lutar e exigir. Procurar entender de onde veio o crack e porque ele assola apenas as camadas mais baixas da sociedade nós não nos interessamos.
   Essa relação é como um jogo de sinuca. A "vítima" é a bola 8 e o "criminoso" é a bola branca. Se a bola branca derrubou a bola 8, é porque alguém aplicou alguma força na bola branca. Não existe geração espontânea. Mas quando pensamos assim é mais difícil de julgar quem é o culpado. Talvez sejam todos culpados, talvez sejam todos vítimas. De uma coisa eu tenho certeza, a única vítima não é o que morre, e o único culpado não é o que mata. As coisas são mais complexas do que nós queremos que sejam. Justiça não pode ser sinônimo de vingança.